"O outro lado doce da vida"
Aqui documentamos a noticia saída no passado dia 10 de Setembro (ontem)
no Jornal "Hoje Macau"
Aqui documentamos a noticia saída no passado dia 10 de Setembro (ontem)
no Jornal "Hoje Macau"
De pequeno, ajudava a mãe a fazer os bolos para os quatro irmãos. Quando cresceu e quis deixar a sua Loriga natal, na zona da Serra da Estrela, em Portugal, rumo a Lisboa pensou que poderia fazer do seu passatempo de infância pela pastelaria profissão. E assim foi. José Moura Pinto, de 40 anos, chegou a Macau há ano e meio sem nunca ter imaginado antes pôr cá os pés, e pensou logo em ir-se embora por não falar uma palavra de inglês e não conseguir emprego a fazer os seus pães e pastéis.
A sua aventura em Macau – e a sua primeira saída para o estrangeiro – começou três meses antes da partida. A mulher, professora de Geografia, estava a ler os jornais no café, quando passou os olhos por um anúncio a pedir docentes portugueses para leccionarem cá. Comentou com José o que tinha visto e a primeira reacção foi: “Por que não? Manda já o currículo”, lembra o pasteleiro.
A candidatura foi feita, a resposta positiva surgiu um mês depois, mas plantaram-se dúvidas: “O que vamos fazer para Macau?”, questionava a mulher, a ponderar se valeria a pena uma mudança tão brusca com uma criança de sete meses ao colo. José Moura Pinto insistia que sim e imaginava que chegaria e encontraria um emprego na primeira semana.
Nada disso aconteceu. Não sabia que era preciso “um tal de BIR” para existir cá e teve de casar à pressa para conseguir uma autorização de residência por conta da mulher. As burocracias prolongaram-se por cinco meses, tempo suficiente para José repensar na mudança e preparar as malas para partir. “Estava num sítio completamente estranho, não conhecia ninguém, não falava inglês, não arranjava emprego. Ficava o dia trancado em casa a cuidar da minha filha e já não aguentava estar sem fazer nada. Disse à minha mulher que ia embora.”
No entanto, as suas tentativas para arranjar trabalho começaram a render frutos, por receber telefonemas dos restaurantes dos hotéis Wynn e Grand Lisboa. “O problema é que nem sequer conseguia entender o que me falavam ao telefone. O meu inglês era uma desgraça e eles desligaram e nunca mais voltaram a ligar.”
Um amigo da mulher tinha ouvido dizer que o hotel Hyatt estava a recrutar pasteleiros e José Moura Pinto candidatou-se, já como último recurso. Estava decidido, ou arranjava empregou ou voltava a Lisboa. O chef francês que o entrevistou por sorte tinha passado uma temporada no México e falava espanhol. “Ele perguntava em espanhol e eu respondia em português. Em inglês não me safava.”
Conseguiu a oportunidade e lá voltou a fazer os seus bolos. “Senti-me, na verdade, um principiante. Tive de reaprender tudo, a não usar açúcar, a limitar o sal, a usar novos ingredientes… E, ainda por cima, todos os colegas são chineses e a nossa comunicação era basicamente por mímica. Foram tempos difíceis.”
A adaptação desde então seguiu à velocidade de cruzeiro, o seu paladar acabou por moldar-se a menos gulodices – “até já emagreci uns quilinhos por não comer bolos tão açucarados”, diz a rir-se – e redescobriu a sua profissão. “Em Portugal, trabalhava num hipermercado e a minha especialidade era a decoração dos bolos. Aqui, faço de tudo, especialmente pastelaria francesa, e trabalho com massas que nunca tinha visto. Estava habituado a usar massa pronta, os recheios de ovos, por exemplo, vinham em latas. Agora tenho de fazer tudo à mão. É uma grande trabalheira, mas confesso que o resultado é bem melhor.”
O inglês deu alguns avanços – “já consigo entender o que as pessoas dizem, embora responder… está quieto” -, os colegas chineses viraram amigos e os planos de ficar em Macau estão cada vez mais certos. “Portugal está muito mal e eu adoro a vida cá. Voltar para quê? Sinto saudades da família, é verdade, mas estou a convencê-la a mudar para cá. Tenho feito grande publicidade de Macau. Eu daqui já não saio.”
Nada disso aconteceu. Não sabia que era preciso “um tal de BIR” para existir cá e teve de casar à pressa para conseguir uma autorização de residência por conta da mulher. As burocracias prolongaram-se por cinco meses, tempo suficiente para José repensar na mudança e preparar as malas para partir. “Estava num sítio completamente estranho, não conhecia ninguém, não falava inglês, não arranjava emprego. Ficava o dia trancado em casa a cuidar da minha filha e já não aguentava estar sem fazer nada. Disse à minha mulher que ia embora.”
No entanto, as suas tentativas para arranjar trabalho começaram a render frutos, por receber telefonemas dos restaurantes dos hotéis Wynn e Grand Lisboa. “O problema é que nem sequer conseguia entender o que me falavam ao telefone. O meu inglês era uma desgraça e eles desligaram e nunca mais voltaram a ligar.”
Um amigo da mulher tinha ouvido dizer que o hotel Hyatt estava a recrutar pasteleiros e José Moura Pinto candidatou-se, já como último recurso. Estava decidido, ou arranjava empregou ou voltava a Lisboa. O chef francês que o entrevistou por sorte tinha passado uma temporada no México e falava espanhol. “Ele perguntava em espanhol e eu respondia em português. Em inglês não me safava.”
Conseguiu a oportunidade e lá voltou a fazer os seus bolos. “Senti-me, na verdade, um principiante. Tive de reaprender tudo, a não usar açúcar, a limitar o sal, a usar novos ingredientes… E, ainda por cima, todos os colegas são chineses e a nossa comunicação era basicamente por mímica. Foram tempos difíceis.”
A adaptação desde então seguiu à velocidade de cruzeiro, o seu paladar acabou por moldar-se a menos gulodices – “até já emagreci uns quilinhos por não comer bolos tão açucarados”, diz a rir-se – e redescobriu a sua profissão. “Em Portugal, trabalhava num hipermercado e a minha especialidade era a decoração dos bolos. Aqui, faço de tudo, especialmente pastelaria francesa, e trabalho com massas que nunca tinha visto. Estava habituado a usar massa pronta, os recheios de ovos, por exemplo, vinham em latas. Agora tenho de fazer tudo à mão. É uma grande trabalheira, mas confesso que o resultado é bem melhor.”
O inglês deu alguns avanços – “já consigo entender o que as pessoas dizem, embora responder… está quieto” -, os colegas chineses viraram amigos e os planos de ficar em Macau estão cada vez mais certos. “Portugal está muito mal e eu adoro a vida cá. Voltar para quê? Sinto saudades da família, é verdade, mas estou a convencê-la a mudar para cá. Tenho feito grande publicidade de Macau. Eu daqui já não saio.”
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