sexta-feira, janeiro 01, 2010

Vales Glaciares da Serra da Estrela





A Era dos Glaciares deixou na Serra da Estrela testemunhos ímpares, desde o planalto glaciário onde o glaciar tinha origem, às paisagens graníticas moldadas pelas línguas de gelo em movimento ou “presenteadas” com blocos erráticos que o gelo ia deslocando.

Podemos começar a Rota dos Glaciares no planalto da Torre – o planalto glaciário – onde, noutros tempos, se formou uma cúpula de gelo. O gelo atingiria nessa época cerca de 80 metros de altura. Dessa ocupação glaciar herdámos uma paisagem de rochas bem polidas pelo gelo, sem arestas salientes, onde, nas depressões, se formaram lagoas e prados húmidos. Do planalto da Torre é possível seguir esta Rota descendo aos principais vales glaciares: o Vale Glaciário do Zêzere, o Vale Glaciário de Alforfa, o Vale Glaciário de Loriga, o Vale Glaciário do Covão Grande e o Vale Glaciário do Covão do Urso.

Escorrendo desde a cúpula do glaciar, as línguas de gelo, com toda a sua força, formaram, em altitudes mais baixas, os vales glaciares, vales tendencialmente em forma de “U”. Destaca-se o Vale Glaciar do Zêzere por ser o maior vale glaciário da Serra da Estrela, atingindo 13 km de extensão. A língua de gelo que deu origem ao Vale Glaciário do Zêzere atravessava a zona onde hoje se situa a vila de Manteigas, dissolvendo-se mais à frente, a cerca de 680 metros de altitude. Esta língua de gelo era alimentada pelas línguas de gelo da Nave de Santo António, do Covão da Ametade, da Candieira e dos Covões, atingindo, a montante, 300 metros de espessura, como prova a existência de moreias – espaços onde os gelos depositaram grandes rochas deslocadas do planalto glaciar – na lagoa seca, na Nave de Santo António e abaixo do vale da Candieira.

A força do gelo era tal que arrastava inúmeros blocos graníticos, a título de exemplo da espectacularidade desta força natural podemos destacar o enorme “Poio do Judeu”, imenso bloco granítico de 150m 3 no alto da Nave de Santo António.

O Vale Glaciário da Alforfa tem uma localização precisamente oposta em relação ao Vale Glaciário do Zêzere. Neste Vale Glaciário a língua de gelo atingia 5,5 km de comprimento e dissolvia-se, devido à exposição solar, a apenas 800 metros de altitude. Neste vale é possível observar os maiores depósitos de enormes blocos graníticos em frente ao que se pensa ter sido o local de término das línguas de gelo que deram origem a este vale.

Para conhecer o Vale Glaciar de Loriga quase não é preciso sair da actual vila, dado que este vale se estende quase até lá. O Vale Glaciário de Loriga atinge uma extensão de 7km onde se formaram quatro covões. As línguas de gelo dissolviam-se a 800 metros de altitude, deixando a nu os blocos graníticos já existentes, e deram origem à Ribeira de Loriga.

O Vale Glaciário do Covão Grande teve origem num glaciar que atingia 5,5 km em direcção à aldeia de Lapa dos Dinheiros, dissolvendo-se a 1000 metros de altitude. Neste vale destacam-se o afamado cântaro gordo, as acumulações moréticas da Nave Travessa e os blocos erráticos admiráveis perto da lagoa comprida, lagoa de origem glaciária.
Vista parcial, a juzante, do Vale Glaciar do Zêzere

O percurso do Vale do Covão do Urso deverá ser feito exclusivamente a pé, dado que só é, longinquamente, observável a partir da EN 339, que vai até ao Sabugueiro. Este vale recôndito teve origem num glaciar do lugar dos Conchos, no planalto da torre, e percorria o actual vale, de 6,5 km, até ao local onde hoje podemos visitar a aldeia do Sabugueiro, dissolvendo-se, portanto, a cerca de 1000 metros de altitude, e formando a maior moreia lateral da Serra da Estrela.

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